February 22, 2004

parlare

Meu coach de natação fala comigo em português. Ele é americano. Eu lembro que quando vivíamos em Campinas e eu não me interessava nem um pouco em aprender nenhuma língua estrangeira, às vezes eu acompanhava o Uriel nas chatíssimas reuniões do Clube Kiwanis, onde os americanos que viviam no Brasil se encontravam uma vez por mês para destramelar no inglês. Alguns raros brasileiros participavam daqueles encontros e o Uriel era um deles. Eu ía pouquíssimas vezes, porque não entendia inglês e ficava tremendamente irritada quando alguém não falava português comigo. A vida dá muitas voltas e hoje estou na situação inversa. O português é o meu gueto. Eu não me preocupo muito em que língua estou falando, nem me agrupo com ninguém especialmente para destramelar na minha língua materna. Tudo acontece naturalmente, sem muito pensar. Mas eu vejo no meu coach falando português, aqueles brasileiros que, no Brasil, não perdiam uma oportunidade de praticar o inglês quando tinham uma chance. E de vez em quando me vejo como os americanos nas reuniões do Kiwanis em Campinas, sem saco para falar a língua estrangeira.

Ontem vi toda essa dinâmica acontecendo em outra língua, como num filme que eu só entendi porque a atitude é universal. Os italianos não estavam se esforçando nem um pouco para falar inglês e os americanos e estrangeiros que aprendiam o italiano estavam ávidos para praticar sua gramática e vocabulário. Eu gosto de ouvir línguas diferentes, especialmente se é uma que eu tenho um pouco de familiaridade e consigo entender palavras e sentenças. Mas fiquei um tanto irritada e uma hora pedi encarecidamente "instructions in English, please!". Quem diria, hein?

Fer Guimaraes Rosa - February 22, 2004 11:47 AM

Voce conheceu alguma Dorcas McLennan nesse club Kiwanis?

Beijos,
Luciana

Quando eu fiz intercâmbio em NH lá pelos idos de 91 (nóóósa!) eu passei 6 meses imersa em inglês. Sonhava, pensava... bizarro! E tinha um professor da high school que adorou o fato de eu falar portugues pq assim ele poderia treinar o portugues de portugal que ele conhecia. Foram tentativas hilárias mas eu não tive muita paciência de continuar...

Bom ouvir vc dizendo que nunca se esforçou pra aprender ingles. Ando com uma culpa na consciencia por ficar embromando pra fazer curso. Agora, a desculpa é que é tarde - vamos pro Brasil em maio, o mais tardar. O Colin fala comigo em português o tempo todo . Mas teve um dia, depois de irmos almoçar com amgos novaiorquinos, encontrar não sei quem, e coisa e tal, que me deu um certo siricutico, por conta de ssa coisa de ouvir e ter que se comunicar em outra língua que não a minha. Acho até que passou perto de um ataque de pânico. A angustia só passou em casa, segurando meu cobertor, sendo mimada pelo Colin... que fiasco!

Fer, isso e' bem verdade as vezes a gente se irrita de ficar falando uma lingua estrangeira por mais que ela tenha nos fascinado. Isso acontece muito no comeco e e' quase que se voce nao encontrar pessoas falando a sua propria lingua voce vai acabar enlouquecendo. Algo como se fossemos perder a nossa propria identidade. Mas com o tempo a lingua estrangeira vai se tornando mais familiar e nos comecamos a fazer parte daquele grupo de pessoas que falam aquela lingua estranha. Hoje eu ja nao vejo isso mais como uma perda de identidade mas sim como uma expansao.
Abracao!