August 30, 2010

sobre a vida dos outros

tracy-hepburn.jpgNunca tinha reparado, nem nele, nem nela, até o dia em que vi os dois conversando na entrada da piscina, ela enrolada na toalha, segurando um saco com acessórios de natação. Nunca teria reparado nos dois ali conversando, se ela não estivesse chorando. Nadei de costas com o olhar fixo na cena do moço e da moça conversando e ela chorando. Muitas histórias passaram pela minha cabeça enquanto eu nadava e olhava, ele ouvia e ela falava e chorava. Pensei primeiro que talvez alguém estivesse doente na família dela. Depois pensei que eles poderiam ser um casal se separando. Fiquei com muita pena dela—chorando em público, e me identifiquei, pois faço a mesma coisa. E achei simpático a maneira como ele escutava, meio que dando apoio.

A partir desse dia comecei a reparar nesse casal, que não sei quem são, nem se são mesmo um casal, nem o que fazem, ou que apito tocam. Eles chegam juntos pra nadar, ela enrolada na toalha. Às vezes ele vem sozinho. Outras vezes ela vem sozinha. E agora eu olho, sempre de rabo de olho. Ela é petit, magrinha, cabelo comprido, bem bonitinha, com uma vozinha. Ele é altão, bem aprumado, simpático, sorriso bonito, cabelo grisalho apesar de aparentar ser bem jovem. Eles chegam juntos, nadam juntos, saem juntos e apesar de eu ficar sempre de olho, nunca mais vi ela chorando.

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August 27, 2010

overwhelmed

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Idéias não me faltam. Leio zilhões de revistas, livros e websites, marco um zilhão e trezentas receitas que quero preparar, mas não consigo colocar nada em prática. Meu cotidiano é uma sequência de atividades básicas, recheado de comida simples, repetecos de coisas que sempre dão certo, usando os ingredientes protagonistas do verão. Me sinto presa dentro de um eterno deja vú.

Começo o dia com o tanque cheio de energia, não sinto desânimo algum, tenho estado ocupada com alguns projetos no trabalho, tenho gás suficiente pra pedalar minha bicicleta pra lá e pra cá e fazer mil coisas durante a minha horazinha de almoço, tentando surfar com elegância as [poucas] ondas de calor que tivemos este ano. Mas vou dizer que depois que faço o jantarzinho, no soar das sete badaladas, já vou sendo abraçada por uma exaustão que me tira não só a energia, mas também o bom humor. Deito cedo, durmo cedo, o máximo que tenho conseguido fazer no final do dia é passar os olhos pelas revistas e assistir um pouco de algum filme na tevê.

Ando me sentindo overwhelmed pela quantidade de coisas que quero fazer e não consigo. A falta de tempo me causa uma grande frustração.

Alguém me disse—é apenas o calor! Também já me falaram—ah, mas você faz coisas demais! Ou—deve ser os hormônios. Será que ando sentindo esse imenso cansaço porque desgosto imensamente das mesmices e muitas vezes me percebo ficando óbvia, fazendo sempre as mesmas coisas, batendo na mesma tecla? Por que não consigo otimizar o tempo que tenho disponível e fazer mais coisas legais, isso eu já não sei responder.

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August 25, 2010

[quase famosos]

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—como é trabalhar com o Sr. José Firelli?
—desculpa, mas é Zefirelli.
—ah, para a senhora, que é íntima!
[narrado nas crônicas de Paulo Francis] hahaha!

A vida é realmente um sitcom. Meu chefe me contou uma história surreal que aconteceu com ele e que ele chamou de The Water Nazi—relativo ao The Soup Nazi do Seinfeld. O cara chegou na máquina de refil de água do supermercado com 17 galões vazios e ocupou as 4 torneiras. Meu chefe pediu pra usar apenas uma, pra encher apenas um galão e o cara respondeu mal humorado que NÃO. E acabou com a água da máquina.

Também tenho uma história similar—The Salad Bowl Nazi. Estava na thrift store num sábado, como é muito meu costume, garimpando coisinhas de cozinha. Achei uns potinhos, uma bandeja e numa pilha de coisas em cima do balcão, descobri uma saladeira bem bonita por $3. Peguei e segui em frente. Regra de thrift store é achou, gostou, segurou firme! Porque tá solto é de qualquer um. Bom, estava na fila pra pagar quando uma mulher se aproximou e arrancou a saladeira da minha mão com a maior violência. Fiquei atônita, como ficaram também todos os outros que estavam na fila comigo. A mulher, numa voz alterada, bradou—isso É MEU, eu já paguei! Pagou e largou em cima do balcão. Merecia perder os três mangos, pra aprender uma lição. Mulher grossa e ralé. Nem todo mundo que frequenta lojas de segunda mão é assim, pelo menos não na que eu frequento.

Uriel comentando a última edição da revista Martha Stewart Living, com ela na capa disse—usaram uma foto dela de 30 anos atrás, né? Incrível, mas a mulher, além de rica, linda e poderosa, ainda parece imortal. Preservada no formol. Muito ódio dessa edição de setembro da revista—com ela super xóvem na capa, mostrando a organização da cozinha dela. Isso não se faz! Mostrar aquilo pra nós, pobres e mortais, gente que envelhece e que não tem uma super cozinha organizada por uma equipe. Sem falar que a malandra se apossa de todo e qualquer objeto antigo e vintage disponível. Não sobra talheres de baquelite nem vasilhas de argila vitrificada pra mais ninguém.

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August 12, 2010

a casa mudou-se

thehousemoved.jpg

E saiu no jornal que quando levaram ela embora um casal de hippies foi atrás dançando e cantando—our house is a very, very fine house with two cats in the yard, life used to be so hard, now everything is easy 'cause of you and our la,la,la, la,la, la, la, la, la, la, la la,la,la, la,la, la, la, la, la, la, la.....

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