September 27, 2007

acabou o nosso sossego

O ano letivo no campus Davis da Universidade da Califórnia começou hoje. Desde o inicio da semana que a vida na cidade mudou. Pra mim, que gosto de paz e tranquilidade, mudou pra pior. A cidade e o campus se enchem de gente. As figuras mais notáveis são os novatos, zanzando literalmente à pé ou de bicicleta, com um mapa na mão, fazendo perguntas e carregando saquinhos da bookstore, a lojinha da universidade que vende muito mais do que livros. Eu logo vejo quem é novato também pelas burrices que eles fazem com a bicicleta, pedalando na contra-mão, entrando no circulo pelo lado errado, prontos para causar um acidente. E a turma de sempre retorna à ativa, bicicletando e falando no celular, ou atravessando a rua sem olhar porque está falando no celular. Falar no celular é imprescindível—ou você está falando no celular ou está ensurdecido pelos pequenos fones dos Ipods e Mp3 players que abundam. Eu já fico preparada pra pedalar no meio da horda, quase ser atropelada, quase atropelar, e praticar meu vocabulário de xingamentos. Vamos enfrentar dificuldade pra atravessar a rua nas horas de troca de classes, filas em absolutamente todos os lugares, restaurantes cheios, música alta nas fraternidades, centenas de meninas de cabelão, mini-saia e flip-flops cantando e batendo palmas juntas nos jardins das sororities, carros causando congestionamento na esquina da minha casa, trezentas mil garotas usando a mesma blusinha que está em liquidação na loja da GAP, todas as mesas dos cafés da cidade ocupadas com estudantes e seus laptops, amigos professores e alunos desaparecidos nas trevas das catacumbas acadêmicas. O ano letivo começou. o segredo da preservação da sanidade agora se resume em timing. Corra para chegar primeiro ou enrole para chegar por último. E se quiser realmente sossego, mude-se para a cidade vizinha.

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September 23, 2007

e-mail me

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September 21, 2007

vendinha

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September 20, 2007

fashion emergency

Daqui a pouco começam a chegar os novos estudantes que vão iniciar o ano letivo no campus Davis da Universidade da Califórnia em meados de outubro. Presume-se que a maioria dos novatos investiu num enxoval de roupetas novas e bacanas. Garotos e garotas vindos de todos os cantos do país, num desfile de shorts, bermudas, mini-saias, vestidinhos e blusinhas leves, chinelos e sandalias, Felicidade é poder estudar nesse lugar onde supostamente nunca chove e está sempre ensolarado. Recurso para iluminar esse equivoco coletivo: uma distribuição extensa de catálogos de outono do Urban Outfitters.

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September 18, 2007

aí é assim também?

Cada relógio marca uma hora diferente e garanto que tem relógio demais espalhado pela casa. Por causa deles e da confusão mental que eles me provocam, estou irremediavelmente sempre atrasada ou adiantada. E não resolve tentar acertar um por um com um cronômetro, porque eles simplesmente não se coordenam, não se bicam. O jeito é escolher apenas um ou se adaptar à uma lastimosa dessincronia eterna.

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September 14, 2007

o amigo gato

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um passinho pra frente, por favor

Quando eu acordo e não vejo mais a luz do sol entrando pela janela e o sapinho e a joaninha do meu Google ainda estão dormindo no sleeping bag, sei que esse é o primeiro sinal da mudança de estação. Outono, por favor, não fique enrolando, pois sem você não existe outubro.

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September 13, 2007

a hard rain's a-gonna fall

Educação, consideração, delicadeza, gentileza, bons modos—ou você tem ou você não tem. É assim simples. O incomodo é tão evidente que a pessoa não consegue nem disfarçar e demonstra cada micromilímetro do despeito que ela sente por você. Por quem você é, pelo que você faz, por todos os motivos parvos, sem explicação. Não é sua culpa e a verdade é que por mais que a pessoa capriche no intuito de te tripudiar, te chatear e te magoar, o perdedor será sempre ela e nunca você.

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September 11, 2007

o rascunho do resumo

Todo sábado eu entro no vestiário da piscina da UC Davis e antes de colocar minhas coisas no mesmo armário, no mesmo corredor, penso que já tenho uma história completamente pronta. Só falta escrever, o que é o de menos.

Outro dia saí da água e comecei a recitar mentalmente—a bandeira brasileira, como é bela e varonil, tem o ouro, tem as matas, tem o céu do meu Brasil. Quase caí pra trás com o poder de uma memorização feita para uma apresentação patriótica numa escola comandada à mãos de ferro por freiras nazistas. Durabilidade garantida. Só precisa acrescentar água e pluft!

Pela primeira vez a viagem dele não foi por causa de trabalho. A noção de distãncia é uma coisa muito relativa. A certificação de que ele está mesmo lá é ouvir a risada da minha mãe ressoando no fundo da nossa conversa pelo telefone.

Gatos não gostam muito de mudanças.

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September 6, 2007

red

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September 4, 2007

O dia que [quase] não existiu

Comecei a sentir uma dor de estômago na sexta-feira e somente na segunda-feira joguei a toalha e pedi pra ir ao hospital. Como a maioria das pessoas sensatas, eu odeio hospitais. Mas me rendi, porque não dava mais. Pleno feriado, bandinha tocando no parque, pessoas felizes se preparando para fazer picnics e passeios, e eu dando entrada na emergência do hospital da cidade. Entrei às dez da manhã e saí às sete da noite. Passei por todos os exames possíveis, de sangue, urina, raio-x, até resolverem fazer um cat scan. No meio tempo me deram um cocktail de remédios que não adiantou nada, e depois uma dose pequena de morfina que pra mim, desacostumada com medicamentos, foi um verdadeiro nocaute.

Tenho que abrir um parêntese pra falar sobre essa experiência. Alías, sou uma pessoa certinha e só faço drogas legalmente, dentro de hospitais e consultórios médicos e dentários. Fiquei muito impressionada com o poder da morfina. Agora entendo porque essa droga é administrada em pacientes terminais. Ela simplesmente te leva pra outro planeta. Foi uma coisa rápida e totalmente baqueante. Eu senti a droga entrando na minha corrente sanguínea, engrossando o meu sangue e tomando controle de tudo. Fui para xangrilá. Mal conseguia falar, mexer as mãos e manter os olhos abertos.

A vantagem de ter ganhado uma viagem de morfina, foi que consegui passar as muitas horas de espera, para fazer o cat scan e os resultados, completamente apagada. No final, o diagnóstico foi uma possível gastrite, que está sendo tratada e monitorada. O scan achou outras coisinhas—nada sério, mas que vou ter que cuidar em breve. Passei o feriado enclausurada numa prisão, que é como a gente se sente dentro de um hospital, desprovidos das nossas roupas e da nossa dignidade. Tudo por um diagnóstico, que nem sempre é cem por cento exato.

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September 1, 2007

um magnetismo que cansa a beleza

Como é de praxe, em toda loja que eu entro tem sempre uma criança berrando, fazendo escândalo, perdida, ou simplesmente aprontando todas pra tentar aplacar o tédio de passar horas dentro de um lugar sem atrativos, esperando a mãe encaroçar, escolher, provar, decidir, pagar. Hoje fui fazer umas compras e me deparei com as mesmas cenas de sempre. Só que desta vez, além das criaturas berrantes habituais, esbarrei numa cantante e noutra confrontante.

A criatura cantante tinha uns quatro anos e rebolava e repetia o refrão de um desses melôs de hip-hop com conteúdo sensual que tocava no sistema de som da loja—you can put the blame on me, you can put the blame on me. Eu olhei pra criança e ri, a mãe sorriu amarelo de volta.

A criatura confrontante estava acompanhada de várias irmãs mais velhas e tinha no máximo três anos. Falava sozinha e quando eu olhei—meu grave erro, ela já veio atrás de mim, falando umas coisas que eu não entendi bolhufas. Umas das irmãs lhe deu uma fubecada e me pediu desculpas. Eu achei engraçado, mas quando dei por mim, percebi a topetudinha atrás de mim, me confrontando. Continuei não entendendo patavinas do que a trubufinha falava, mas ouvi bem claro e alto as irmãs tentando remediar—we're sorry, we're sorry!

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