July 21, 2012

a vida social [dois]

A minha participação um tanto quanto ambígua nas redes sociais tem me deixado reflectiva sobre o que tudo isso realmente significa pra mim. Na vida real eu não sou, nunca fui, uma pessoa gregária. Nunca fiz parte de turmas, grupos, clubes, gangues. E na vida virtual eu pareço seguir o mesmo padrão. Comigo também não rola usar apelidos, nem criar personalidade virtual misteriosa, escondida atrás de um avatar místico. Também não consigo usar as mídias para fazer zilhões de amigos, embora faça amizades, mas no meu ritmo e esquema. Frequento todas as rodas virtuais, mas não sou uma figura popular ou notória. Mas isso acontece porque simplesmente não consigo fazer diferente. Vira e mexe me imagino adolescente e as redes sociais como o páteo da escola, onde você pode estar sozinho, com um amigo ou numa turma. Transpondo isso para a vida real, tenho certeza absoluta de que pelo menos metade das pessoas com quem eu tenho contato virtualmente não me convidariam para fazer parte da sua turma. E vez e outra me transporto para um cenario que marcou o inicio da minha adolescência, onde uma dupla de meninas apontando os dedos na minha direção, gargalhava diariamente durante os intervalos das aulas me deixando completamente deprimida e perturbada. Tudo porque eu, que cresci rapidamente e fiquei alta e desengonçada, vestia uma calça fora de moda e que tinha ficado pula-brejo.

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July 20, 2012

a vida social [um]

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ilustração d'O Pintinho


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July 14, 2012

That American in Paris

an american in parisan american in paris
an american in parisan american in paris
an american in parisan american in paris

An American in Paris é um filme encantador. Um dos mais adoráveis que já vi, dirigido pelo Vincente Minnelli, com Gene Kelly e Leslie Caron cantando e dançando os números musicais de George Gershwin. Posso rever esse filme até o final da minha vida sem me cansar. Mas meu primeiro encontro com ele não foi nada auspicioso.

No inicio dos anos 80 uma das colegas de trabalho da minha mãe tinha uma loja de locação de video—coisa super moderna e bacana na época em que os aparelhos de VHS estavam se popularizando. Mais tarde meu pai descobriu horrorizado que a fulana e o marido alugavam até filmes que eles gravavam da tevê com a vinheta do canal de televisão no canto inferior e os cortes mal e porcamente editados para os comerciais. O negócio faliu e nós nem lamentamos.

Mas antes disso acontecer minha mãe foi convidada para um "chá com filme" na casa da tal colega e me levou junto. O filme programado era Um Americano em Paris. Aguentamos as fofocas e papos idiotas, pois ficamos comendo e nos dando cotoveladas a cada risada ou comentário tosco [que não eram poucos]. Mas quando uma meia dúzia que não queria mais fofocar se ajeitou nos sofás para ver o filme é que a porca torceu o rabo. O dito não era dublado nem tinha legendas. Quer dizer, se você não entendia inglês, azar o seu. Eu e minha mãe, que não éramos fluentes na língua norte-americana, nos entreolhamos com caras de ué e nhoque. Mas continuamos sentadas no sofá afinal de contas ainda salvavam-se os números músicais. Mas a gota d'agua foi quanto algumas delas começaram a comentar o filme com termos de familiaridade de locais—olha só tal rua que subimos naquele dia para ir ao teatro, e aquela ladeira que passamos quando fomos ao bistrô xis, esse bairro é maravilhoso, que saudades de caminhar pelas ruas de Paris! Eu e minha mãe nos entreolhamos outra vez, e eu rapidamente perguntei—vamos embora? e ela concordou em meio segundo—vamos! Nem lembro se nos despedimos, mas lembro do sentimento de absoluto asco com tamanha jecura e pedantismo. Só fui ver esse filme novamente muitos anos depois, quando já morava nos EUA, entendia muito bem o inglês e não precisei da ajuda de legenda. Mas foi por minha própria escolha.

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July 3, 2012

[ um—dois—três ]

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A saga do gato velhinho—o veterinário disse que não dá pra saber sem fazer um MRA, mas eu acho que meu gato Misty teve um derrame durante a noite, pois não tem explicação pra decaída repentina que ele teve. Não consegue mais ficar em pé direito e mal consegue caminhar em linha reta. Mas está comendo, bebendo água e sendo paparicado como um bebê, separado fisicamente do outro gato, para não ser incomodado. Já chorei cinco baldes de lágrimas, mas meu marido [um die hard Poliana] está confiante que o gato velhinho vai se recuperar. Instalamos ele no quarto de hóspedes pra ele poder ficar sossegado. Só está dando um pouco de pena ver o gato Roux todo chateado com a exclusão. Outro dia estava contando do estado do meu gato pra colegas no trabalho e uma pessoa sugeriu que eu colocasse ele "pra dormir"—eufemismo da língua inglesa para a eutanásia. Depois veio se desculpar, porque isso não é coisa que se sugira, ainda mais que o gato está se alimentando normalmente e está visivelmente se esforçando pra continuar vivendo.

Meu marido é agora o homem jukebox, carregando no bolso da camisa o iphone conectado na rádio Pandora e tocando jazz dos anos 40. Bolso de camisa de professor Pardal—um par de óculos, várias canetas, uma trena, uma bússola e um gadget tocando música.

Nem todo o dinheiro do mundo faz com que o cabelo do Karl Lagerfeld deixe de ser uma piaçava arrepiada. #castigo

Tenho comido os melhores damascos, os melhores pêssegos, os melhores morangos, os melhores melões, as melhores berries, as melhores cerejas.

(( Tangled Up in Blue ))

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